Quando não estamos tão bem, numa good vibe, e sentimos algo, que pode ser mais ou menos forte mas é incómodo; às vezes sem descrição óbvia, outras com descrições como raiva, tristeza, irritação, frustração, … normalmente, entramos num ciclo de abstração do que está a acontecer agora e ficamos lá, noutro espaço qualquer, a ver o story ininterruptamente com imagens, sons, conversas que só nos perturbam.
E normalmente quando estamos perturbados desenvolvemos convicções. Bom, perturbados ou não, desenvolvemos convicções, certo! A questão é que estas convicções, quando vêm desta espiral do story que não presta, não são muito úteis. Por exemplo, quando nos convencemos daquela coisa, que até acaba por nos sair pela boca fora: “A CULPA É TUA!”.
Então, o que é que está a acontecer quando dizemos ou pensamos uma coisa destas?
É fácil de ver, quase óbvio (quando estamos bem da cabeça e das emoções): simplesmente, passamos para o outro a responsabilidade do que sentimos.
Não é estranho dar esse poder a outro?!
No imediato, isto dá-nos uma sensação muito potente! Porquê? Se reparares, é de certa forma, um processo de dizer ao outro que ele é que está mal, que não sabe, que é no fim de contas… inferior. Tu sim, tu sabes ver e fazer as coisas como deve ser! E com esta “conversa” até parece que te sentes um bocado melhor, talvez muito melhor. Talvez penses consciente ou inconscientemente: “não fui eu que fiz a asneira”. “Eu faria melhor”. “Eu faria diferente”. Etc, etc, etc….
Pior ainda – bem, acho eu que é pior – é quando isto nem sequer nos sai pela boca fora. E ficamos só a pensar: “Ela/ele é mesmo parva/o”.
É até bastante comum que isto aconteça. Why? Porque nós vamos crescendo a ouvir coisas que nos vão limitando e inibindo. E ficamos condicionados para minimizar as nossas zangas, as nossas birras e a sermos sim, uns crescidos. E na verdade, zangas e birras não são mais do que expressões de necessidades. Claro, podem ser melhor transmitidas e comunicadas, claro que sim! Só que! Só que não nos ensinam, por outro lado, a saber exprimir necessidades. Ensinam-nos a sermos bem comportados porque fazer birras e zangas é realmente feio e não há paciência!
Por tudo isso, é mais fácil parecermos “não zangados” e simplesmente pensarmos em culpar o outro idiota sobre aquilo que nós sentimos! Assim, alimentamos essa espetacular crença de sermos os “bons” e ela ou ele é o “mau” porque me faz sentir aquela coisa horrível! Às vezes, podes chegar até ao ponto de te convencer que ela ou ele são tão maus que merecem (quase) todas as coisas más do universo!
Interromper este ciclo meio viciante e aparentemente alimentador, implica assumir a responsabilidade pelo que sentimos e saber expressá-lo. A raiva, a zanga, a irritação, a indignação, como todas as outras maravilhosas emoções, são avisos. São semáforos. E estas, em particular, correspondem aos semáforos vermelhos. Servem para parar e avisar que há necessidades por satisfazer.
Estas coisas acontecem todos os dias…. Eu vejo-as todos os dias… Com os meus colegas, às vezes com amigos, com os meus filhos…. pois… e sem exceção: comigo! Tcharan! E tu certamente também o consegues ver!
Ok, fantástico! E agora? Sinto coisas más, culpo os outros por coisas que sou eu quem sente e isso faz-me sentir melhor! Quando talvez devesse sentir coisas más, dar conta disso, deixar sentir e fazer algo mais positivo do que culpar alguém por aquilo que se passa dentro de mim. Certo. E agora, faço o quê com isto que já sei?
Não há outra – ou antes, eu ainda não descobri outra melhor para mim: perceber e seguir o processo! Quando me sinto com essas emoções menos animadoras, significa que aconteceu “algo” que me fez pensar ou imaginar OUTRO “algo” e é esse pensamento ou imagem (que está só na minha cabeça) que me está a perturbar. Facilmente entendemos também que entre o que acontece e o que pensamos ou imaginamos há alguma diferença!
Se nos dermos este tempo de perceber o que nos está a acontecer, chegaremos com maior facilidade a identificar a necessidade que temos e assumir também a responsabilidade de a saber expressar. Sem birras, nem gritos, nem zangas. Sim, sendo uns crescidos, maduros, etc, como nos dizem toda a vida para ser, e percebendo o que se passa, dizendo-o depois. Ficar com a expressão das nossas necessidades cá dentro é um caminho labiríntico para que aqueles que se dão connosco andarem perdidos e pior, às pancadas. Temos bem mais e melhor que fazer que andar em zangas porque não sabemos dizer o que precisamos.
Da próxima vez que sentires o semáforo vermelho acender, cala-te, pára e observa. Observa o que te está a acontecer a ti e afinal que necessidade tens. O que precisavas que acontecesse? Porque é importante para ti? Depois, explica-o de forma civilizada (que palavra!), crescida (outra!), consciente ou qualquer outra coisa que queiras chamar, afastando essa porcaria das birras e amuos que ninguém aguenta!